Meus finais de semana se classificam da seguinte forma: com ela ou sem ela. Tenho que assumir que os “sem ela” permanecem difíceis. Logo, minha estratégia é se ocupar.
Numa dessas tentativas, optei por ver um filme numa das várias plataformas que temos on demand. Selecionei uma sugestão que a própria plataforma oferece, porque é tanta opção que muitas vezes demoramos mais para escolher o filme do que a duração dele.
Queria algo leve, divertido e me deparei com o tema amor de mãe. Uma mãe divorciada, com dois filhos, que ao ver o “ex” se casando novamente, surta com a ideia de ser substituída.
Sou dessas pessoas que se intriga com temas e faz um flash back na vida com o intuito de checar como lidei com situações similares.
Cena 1. Sentada com meu pai no sofá, minha filha tinha poucos meses, minha vida de pernas para o ar e completamente fora do que planejei.
Comento com ele sobre o amor que sinto pela pequena e começo a colocar uma série de “e se” na conversa. Ele me olha bem nos olhos e diz: filha, é amor incondicional. Não tem “e se”. Logo penso: Sim, amor puro, amor pleno, sem expectativa, sem querer nada em troca. É a entrega do seu melhor para aquele ser tão delicado que mais parece que faz parte de você do que do mundo.
Cena 2. Na terapia. Desempregada e desesperada compartilhava da minha preocupação de não poder suprir com a quantidade de brinquedos e passeios que o “outro lado” proporcionava. E mais, criança é normalmente “comprável” pq eles querem mesmo é brincar! E tudo isso vem ao encontro dessa vontade.
A terapeuta me pergunta: você brinca junto com ela? Você cuida dela? Você está no dia a dia com ela? Fui respondendo uma a uma. Até que ela perguntou: você sabe o que é o porto seguro de uma criança? Senti no meu coração, as lágrimas escorreram dos olhos, passando pelas bochechas, pela boca e pelo pescoço. Peguei um lenço e abracei a lição: semear amor, por amor, apenas amor. É isso que constrói.
Cena 3. Hora do jantar. Ela acabara de voltar da visita do final de semana. Ela corre me abraça e pede para jantar. Preparo tudo e entre uma colherada e outra, ela fala do seu final de semana.
De repente, faz uma pausa, e como pudesse adivinhar o que me intrigava, pede para que eu a olhe, bem pertinho nos olhos, e diz: “mamãe, tem amor da Be para a tia Carol. Tem amor da Be pra tia Pati. Tem amor da Be pro Vovô Carlos, pra Vovó Cida, pra Olivia, pra Luisa, tem amor da Be pra todo mundo!”
Continuou citando alguns nomes da família, dos meus amigos e fechou com “Tem amor da Be para a mamãe”, me abraça bem apertadinho, “e também pro papai” e me olha sorrindo, com os olhos brilhando de tanta luz e amor que aquele pequeno peito carrega e faz questão de compartilhar, sem qualquer julgamento.